domingo, 10 de agosto de 2008

Aprendendo a Jogar.

Quando tinha uns catorze anos, minha irmã, eu e alguns colegas fomos convidados a participar de uma excursão a São Pedro D'Aldeia. A responsável pela excursão era uma vizinha nossa que sabia que não tínhamos como pagar, mas queria preencher os lugares que não conseguira vender. A princípio não queria ir, mas fui convencida por minha irmã, já que ficaria quase sem chances de ir, caso eu também não fosse. O ônibus fez uma parada em Niterói para pegar alguns rapazes que trabalhavam com o marido de nossa vizinha responsável pelo passeio. Um deles sentou-se ao meu lado e fomos conversando até lá. O dia foi alegre e sem transtornos. Mas não conversei mais com meu colega de viagem.
Em casa, o comentário era que o rapaz havia se interessado por minha irmã. Uma semana depois minha vizinha chamou-me para dizer que ele estava em sua casa me esperando. Expliquei-lhe que não era eu quem ele procurava. Saí com uma colega e demoramos um pouco. Ao retornarmos o rapaz estava parado exatamente no portão onde teria que passar para entrar em casa.
_ Até que enfim apareceu a Margarida. _ ele falou quando me viu.
_ Boa tarde. A Margarida havia sumido?_ perguntei sem entender nada.
Minha colega entrou e fiquei ali conversando com ele. Logo soube o motivo de estar a minha procura.
Chamava-se Gabriel (nome original), morava em Santa Teresa, tinha quase o dobro de minha idade e trabalhava no banco Sul Brasileiro(hoje já extinto). Disse que estava interessado em mim. Fui sincera e direta. Não queria namorado. E falei que achava estranho alguém querer namorar uma pessoa com quem mal tinha falado.
Ele ficou meio constrangido, mas explicou-me o motivo do suposto interesse. Minha vizinha havia dito a eles que eu nunca havia namorado, então fizeram uma aposta de que ele seria o primeiro a me conquistar. Se eu mantivesse minha negativa, perderia a aposta (que eu nem quis saber qual era). A princípio fiquei furiosa com a situação. Mas acabei achando engraçado tamanha infantilidade.
_ Depois dizem que eu sou criança. _ falei deixando-o encabulado.
Gabriel tinha olhos verdes e usava óculos de lentes grossas. Disse que o meu vizinho seria o encarregado de divulgar o sucesso ou fracasso do desafio.
Minha opinião não mudou sobre namoro. Ao contrário de Robson, Gabriel não me atraia em nada. Mas concordei que ele dissesse aos colegas que havia conseguido. E aproveitando um colega comum que passava por nós, aproveitou para beijar-me. Beijo, que não me transmitiu nada.
Foi embora me agradecendo por ter ganhado a aposta, já que o colega que vira o beijo encarregara-se de dizer ao meu vizinho o que havia visto.
Mas para meu total espanto, no final de semana seguinte Gabriel voltou dizendo que viera me agradecer uma vez mais. Conversamos por um tempo, mas logo ficamos sem assunto. Gabriel, não queria ir embora e pediu-me lápis e papel. Não entendi, mas atendi o pedido. Algum tempo depois nos divertíamos a valer brincando de jogo da velha e forca. Durante algum tempo repetimos aquele ritual maluco, mas gostoso. Mas começou a ficar difícil convencer as pessoas de que não havia nada entre nós. Perguntavam-se o que um homem ganhava em sair de tão longe todo fim de semana para fazer companhia a uma menina? Não fazia sentindo também tentar explicar-lhes que gostávamos de brincar. Embora fosse a mais pura verdade. Então resolvemos parar de nos ver.
Não coloquei mais os olhos naquela pessoa, mas ainda lembrava com carinho aqueles momentos.
Por isso deixo um recado a ele.

"Gabriel, não é raro pensar que a vida seria bem mais alegre e ganharia maior sentido, se como você as pessoas apreciassem as maneiras simples e infantis de passar o tempo. Assim como eu, elas se surpreenderiam ao descobrir que brincar é muito bom, não dói e é barato. Torço para que você não tenha se deixado levar pelos problemas e esquecido seu lado moleque e infantil que tão bem me fizeram. Me ensinando a encarar a vida com a leveza necessária para encarar os desafios. Espero que esteja bem. Beijos".

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Agora são Horas e Minutos - Seja Bem Vindo(a)
Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi.
(Mário de Andrade)