sexta-feira, 6 de março de 2009

Dia Internacional da Mulher


O dia 8 de Março é, desde 1975, comemorado pelas Nações
Unidas como Dia Internacional da Mulher.Neste dia, do
ano de 1857,as operárias têxteis de uma fábrica de Nova
Iorque entraram em greve ocupando a fábrica, para
reivindicarem a redução de um horário de mais de 16
horas por dia para 10 horas. Estas operárias,que recebiam
menos de um terço do salário dos homens, foram
fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara
um incêndio, ecerca de 130 mulheres morreram
queimadas.Em 1910, numa conferência internacional
de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido, em
homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de Março
como "Dia Internacional da Mulher".

Embora o dia internacional da mulher exista há tanto
tempo,só alguns anos atrás tomei conhecimento da data.
Em um dia comum por volta do ano de 1992,fui chamada
por meu marido para ajudarmos a irmã dele na mudança.
Saímos da Freguesia- Jacarepaguá e nos dirigimos ao local
da mudança. O destino seria um bairro da zona sul do Rio.
Lá chegando, ajudamos no que foi possível,mas como éramos
só nós três,muita coisa não pôde ser feita. Por volta das
13 horas meu marido anunciou que precisava ir trabalhar
e quis me levar junto e deixar em casa. Minha cunhada e
eu protestamos,estava cedo e ainda havia coisas para fazer.
Ele não gostou,mas acabou concordando. Assim que ele saiu,
ela me chamou para irmos ao centro do Rio fazer umas
compras para casa. Andamos,rimos e nos divertimos muito.
Embora a família dele fosse grande,era por aquela cunhada,
assim como da mãe dela que eu tinha um carinho imenso.
Fomos surpreendida por um forte temporal de verão que
alagou as ruas do centro e isso não tirou nosso bom humor.
Mas ao perceber que escurecia,avisei que precisava ir
embora. Tinha o jantar para fazer. Minha cunhada
reclamou e quando viu que passava por nós uma passeata
pelo dia internacional da mulher,tentou me convencer a
ficar e jantarmos juntas para comemorarmos "nosso dia".
Dizia enquanto andávamos pelas ruas alagadas que
devíamos tomar um porre,ela de cerveja e eu de coca-
cola,(já que eu não bebia conforme já contei).
Mesmo deixando minha amiga chateada,que falava todo o
tempo no meu ouvido:
_Isso,vai mesmo,vai igual uma boba fazer comidinha para
o maridinho,depois não diga que eu não avisei,meu irmão
não te merece.Eu ria,imaginando que a dor sofrida por ela
recentemente,tinha feito seu coração endurecer um pouco.
Nos despedimos com um abraço e ela disse no meu ouvido:
_Chata, amanhã você vai me ligar e dizer que jantou sozinha.
Ri e mostrei a língua para ela. Após o temporal todo o trânsito
estava parado e demorei muito mais que o normal para chegar
em casa. O tempo passou e nada do meu “convidado" aparecer,
dei um crédito devido a forte chuva que caíra no fim da tarde.
Já passava de meia noite quando desisti de esperar,como não
comia sozinha,guardei tudo. Ao abrir a geladeira vi duas
cervejas bem geladas. Não pensei duas vezes. Peguei uma
e sentei na varanda que tinha uma bela vista do alto do 11º
andar. O calor forte do verão contrastava com a brisa deliciosa
que entrava.Ali fiquei por algum tempo. Não beber,a pressão
muito baixa e o cansaço do dia agitado fizeram com que eu
ficasse totalmente tonta com uma cerveja e meia.
Acordei embaixo do chuveiro com meu marido ao meu
lado se divertindo com a situação. Ao deitar vi a hora no
relógio de cabeceira. 2:10. Virei para o lado e adormeci.
No dia seguinte não liguei para minha cunhada,mas nos
encontramos na casa da minha sogra dias depois e contei
o ocorrido. Claro que ela gargalhou,me xingou e disse o
famoso:
Eu te disse. Um ano depois, em 08 de março estava com
minha amiga e ainda cunhada,bebendo coca-cola e ela
algumas cervejas, enquanto ríamos da lembrança do ano
anterior. Almoçamos juntas e não me apressei para
voltar...afinal meu marido podia nem chegar para o jantar.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Amor incondicional.


Certa vez me disseram que a mente humana pode ser nossa
melhor aliada,mas também nossa pior inimiga.
E pensava nisso enquanto lia uma carta de alguém distante.
Em tempos de correio eletrônico parece incomum esse tipo
de comunicação, mas é uma linguagem imensamente prazerosa.
Essa carta me pegou em um momento nostálgico, cheio de
lembranças. Havia sonhado com minha avó e isso era tão
raro que sempre que acontecia passava horas e até dias
tentando relembrar cada detalhe. Era bom demais ser
“visitada” por alguém que me fez o que sou.
Mesmo que o sonho em questão tivesse sido uma bronca
daquelas. Soube da “partida” de minha avó em um dia lindo
de verão no Rio de Janeiro, mas curiosamente senti como
se o céu tivesse nublado de repente. A sensação era estranha
e nunca vivida antes.
Não nos víamos mais há anos, mas o amor que sentíamos
uma pela outra era incondicional e sem fronteiras.
Havia uma espécie de telepatia entre nós e isso causou alguns
constrangimentos.
Morei com dona Eulina até os sete anos e aprendi ali com
aquela mulher determinada que ao contrário do que dizem
não podemos tudo o que queremos.
Criança arteira dei muitas dores de cabeça aquela que
inicialmente chamei de mãe e depois carinhosamente
de minha velha. Subia e caia de árvores, brigava como menino
e até sangue tirava das colegas,pegava frutas no quintal vizinho
embora tivesse um pomar no nosso,acendia o fogão a gás mesmo
sabendo que o utilizado era o de fogo à lenha. A tudo isso era
repreendida severamente por dona Eulina, que não dava castigos
e sim surras. Pessoas próximas muitas vezes achavam uma tirania
a forma que ela educava. Mas era com atenção e quase devoção que
percebia seu olhar e sorriso de canto de boca quando eu era elogiada
por amigos dela. Era arteira sim,mas mesmo com tão pouca idade era extremamente participativa.
Ajudava em tudo e a todos. Era solidária e amigável.
Mas jamais conheci alguém tão querida como minha avó.
Gostava de sentar no seu colo e ficar puxando a pele do pescoço,
enquanto ouvia suas histórias. Mulher decidida e corajosa nunca
deixava alguém lhe ver uma lágrima nos olhos,ainda que sua
expressão demonstrasse toda angústia e sofrimento.
Me deliciava em ver-lhe sentar com as pernas longas cruzadas
e passar horas coçando o queixo,pensando na vida.
Dona Eulina xingava presidentes da república e vilões de
novelas,mas sabia o hino nacional inteiro e só ouvia sua execução
de pé e com a mão no peito. Adorava Lady Diana e idolatrava o papa
João Paulo II. Mulher altiva que era,quando algo a aborrecia ou
preocupava a veia do pescoço pulsava (a minha também) denunciando
muitas vezes sua tentativa de não preocupar as pessoas.
Tinha uma beleza suave,mas um temperamento de rompantes.
Adorava uma roda de samba e dançava como poucas.
Mãe severa e austera,mas dona de um coração e compreensão
que dificilmente alguém não se comovia com suas atitudes de leoa
para proteger suas crias. Foi a essa pessoa que a carta me remeteu.
Lembrava dela diariamente,nem que fosse por um segundo.
Soube que sua partida foi tranqüila e suave. Tomou banho,deitou-se
e não levantou. Serena era sua fisionomia,contrastando com a dor
de parentes e amigos que não se conformavam com a perda.
Estou longe de ser como ela,mas aprendi coisas que me acompanham
até hoje. Entre elas o respeito ao ser humano e suas convicções,ainda
que não compartilhe delas.
Minha véia,vou repetir em palavras o que lhe disse em sonho.
Enquanto estiver respirando,vou continuar cometendo erros
e falhas,mas por favor não desista de mim. Brigue,xingue,me puxe
as orelhas que ainda assim lhe amarei eternamente.

Mudanças em 2009

2009 é o Ano da Reforma Ortográfica. Em casos como
AUTOESTIMA o hífen cai. A sua que não pode cair.
Em algumas palavras, o acento desaparece, como em
FEIURA. Aliás, poderia desaparecer a palavra toda.
O acento também cai em IDEIA, só que dela a gente
precisa. E muito!O trema sumiu em todas as palavras,
como em INCONSEQUÊNCIA, que também poderia sumir
do mapa.. Assim ,a gente ia viver com mais TRANQUILIDADE.
Mas nem tudo vai mudar. ABRAÇO continua igual.
E quanto mais apertado, melhor. AMIZADE ainda é
com "Z", como VIZINHO, FUTEBOLZINHO, BARZINHO.
Expressões como "EU TE AMO", continuam precisando
de ponto. Se for de exclamação, é PAIXÃO, que continua
com "X", como ABACAXI, que gostando ou não, a gente
ainda vai ter alguns para descascar. SOLITÁRIO ainda
tem acento, como SOLIDÁRIO, que muda só uma letra,
mas faz uma enorme diferença.CONSCIÊNCIA ainda é
com SC, como SANTA CATARINA, que precisa tocar a
VIDA para frente.E por falar em VIDA, bom, essa muda
o tempo todo, e é por isso que emociona tanto!!!

(Recebi esse texto por e-mail da minha amiga Sandra,
gostei e quis compartilhar,aproveite e passe no blog dela,
lá irá encontrar coisas interessantes e inteligentes. O link
para o Sopa de entulho está ao lado).Obrigada lindona.

Saúde animal


Hoje o meu coração e da minha
esposa ficou menor, pois tive
mos que decidir por fazer a
eutanásia de nosso cão de
apenas 6 meses.Saímos para
viajar logo após o Natal e
pedimos a minha irmã para
cuidar dele no que fosse preciso.
Tudo estava bem até o nosso
quarto dia de viagem,quando
recebemos um telefonema dela
dizendo que ele (nosso cão)
não estava legal, mas logo pensamos
que era saudades. Assim que chegamos
em casa percebemos que não era saudades
e sim algum tipo de doença que impedia ele de ficar em pé.
No dia seguinte no primeiro horário
levamos ele até o veterinário e foi constatado que ele
estava com CINOMOSE. A doença atacou o
nosso animal no sistema nervoso e ele ficaria
com seqüelas graves caso sobrevivesse com o tratamento.
Por esse motivo decidimos pela eutanásia, até porque
seria pior para todos nós ter um animal TOTALMENTE
dependente. Quero deixar um alerta para todas as pessoas
que NÃO DEIXEM DE VACINAR seus bichos de estimação,
pois a dor de se perder um é muito grande.
Quem achar que vale a pena divulgar esse e-mail
fique a vontade e quem sabe evitar outras mortes
como a do LOBO!
Segue aqui um link que esclarece mais sobre a doença:
http://www.homeopatiaveterinaria.com.br/cinomose.htm


Obrigado.
(Esse e-mail me foi enviado por meu irmão
e estou divulgando).

Lembranças

Mesmo muitos anos depois,sempre que recordava aqueles
momentos, se indagava se não teria passado por tal
experiência em razão da religião que um dia quase
praticara, mas que mesmo não fazendo, ainda hoje
tinha motivos reais para acreditar que coisas como
aquelas acontecem. Criada dentro da religião da mãe,
ainda que desde menina apresentasse problemas
relativos a espiritualidade, tanto a própria mãe
como ela, optaram por não se infiltrar na religião.
Era tudo muito lindo, mas exigia uma obediência e
doutrina que não se achava capaz de seguir.
Não que fosse desobediente, mas nesse sentido era
insubordinada e questionava coisas, que na maioria
das vezes não conseguiam explicar-lhe. E é exatamente
por isso que lhes conto um fato que ocorreu em 1988.
Para isso terei que voltar um pouco no tempo.
Onde nossa personagem tinha apenas 15 anos.
Era dezembro, estava com a mãe na cozinha fritando
uns pastéis para festa de amigo oculto que ela teria no trabalho,
quando adentraram pela porta a tia,com o marido e uma mulher
que logo vieram a saber, que se tratava de uma assistente social.
Algum tempo depois o desespero era total. O tio dela falecera.
Um homem que durante 25 anos trabalhara como caminhoneiro
de uma mesma empresa, sem jamais sofrer qualquer acidente,
no dia que faria sua última viagem antes de se aposentar, quis
o destino que uma scânia batesse de frente com ele.
O consolo? A morte tinha sido instantânea. Foram as palavras

da assistente social, profissional que estava ali a mando da
conhecida empresa (hoje já extinta) para resolver a parte
burocrática do ocorrido.
O homem falecera em uma quarta-feira, mas como tinha

sido em São Paulo, até que tudo fosse resolvido, seu
sepultamento só pôde ser feito no sábado. Não compareceu,
pois tinha pavor de defuntos e mesmo o tio sendo uma pessoa
muito querida, optou por ficar em casa olhando os irmãos
mais novos. Todos que lá estiveram, estarrecidos ficaram com
o que viram (ou melhor, com o que não puderam ver), já que o
estado adiantado de decomposição do corpo, fizera com que
fosse enterrado em caixão blindado.
Não é necessário dizer que naquele ano, não houve festividades

de final de ano como era de costume na casa.
Tudo parecia normal, até que em Março, três meses após o

episódio começou a sentir-me mal. Passava todo o tempo vendo
a imagem do tio, durante a noite, quando conseguia dormir, era
sempre acordada por alguém que dizia que estava chorando.
Passou a rezar sempre antes de deitar, mas nada parecia surtir
efeito. Perdia peso, não se alimentava, tinha pavor da noite, e
principalmente de dormir ou ficar só.
Um dia a mãe irritada com tudo o que acontecia, mas que até

então permanecera sem agir, por achar que podia haver um
certo exagero por parte da filha, resolveu fazer algo.
O banho indicado,e as ervas colocadas sob o
travesseiro,fez com que adormecesse.
E aí o pesadelo começou:
Estava em uma estrada sozinha e com medo, quando um

caminhão passava e parava diante dela. Sorriu ao ver
aliviada que o motorista era o tio. Subiu no carro e ficaram
passeando por um pequeno jardim. As flores ainda pareciam
frescas, prova de que alguém as colocara ali há pouco tempo,
o tio até então calado começou a dizer:
__ Ali estou eu Vitória__ Não entendi.__ Pelo menos,

ali está o que enterraram de mim.__ continuou ele.
__ E como está falando comigo aqui?
__ Está sonhando. Estive todo esse tempo perto de você,

mas nunca lembrava do sonho ou das sensações, por
causa do medo.
__ E o que quer de mim?
__ Você é a única que pode me trazer o que preciso para descansar.
__ E Como posso fazer isso?
__ Conte a sua mãe o que sonhou, ela saberá o que fazer.
__ E o que quer?
__ Ali __ disse apontando para o jardim __ está apenas uma

pequena parte do meu corpo.
Estremeceu e não conseguiu esconder o medo. O caminhão

saiu dali e pegou uma estrada. Na memória vinha a lembranças
dos comentários daqueles que haviam ido ao sepultamento.
Em seu rosto não havia nada que demonstrasse medo ou horror
nos presentes. Não sei como, mas a sensação era a de que realmente
estava vivendo aquilo e não apenas sonhando.
Em determinado momento ele parou bruscamente e ficou com o

olhar perdido em um ponto da estrada. E falou de repente:
__ É ali que está o que quero que me devolva. Vitória,

quase todo o meu corpo ficou ali, mas não consigo encontrar
paz, sem comida e sem meus pés. Por favor, me traga meus pés.
Recusou-se a fazer o que ele pedia, e ele começou a gritar.

Acordou também gritando. Contou apavorada a mãe o que
havia sonhado. Primeiro ela, não deu muito crédito.
Quando percebeu que era realmente verdade, começou
a blasfemar. Havia uma fúria contida nas coisas
que dizia. Quem a ouvisse falar daquele jeito, com certeza
pensaria que estava maluca.
Apesar de já estar convencida de que o perigo rondava,

a mãe nada fez e os sonhos tornaram-se cada vez mais freqüentes
e horríveis. Cada vez sentia mais medo. Até que não
agüentando mais, a debilitação, dois amigos da família
conseguiram convencer a mãe teimosa a agir.
O trabalho foi feito em um cemitério, com a presença dos

dois amigos. Foi ainda na porta, que começaram.
Cada um concentrado em suas funções. Apenas Vitória
não tinha nada para fazer, só pediram fé.
Sem as brincadeiras costumeiras e sem titubear.
A segunda parte teria que ser feita do lado de dentro,

e se recusou a entrar. Ficou parada na porta aguardando-os.
Eles desapareceram e ela parada. De repente um pombo branco
parou aos seus pés para comer os grãos que ali haviam sido
colocados. Ficou extasiada olhando aquele bichinho e quando
ele voou indo para o interior do cemitério, foi atrás dele,
como se hipnotizada estivesse. Era a primeira vez que entrava
em um lugar como aquele. Caminhava lentamente pela rua,
as capelas já estavam fechadas.
Já havia andando um bom pedaço, quando alguém falou:

"Aqui teve um fresquinho hoje", olhou e reparou que havia
um enorme arranjo de flores, muito parecido com o que
vira no sonho. Reparei na pessoa que falara aquilo, era um
jovem bêbado, fazendo sabe-se lá o quenaquele lugar.
Ao longe viu que os três acompanhantes retornavam.

Comentou o que ouvira e o que não levava nada muito a
sério disse rindo que o rapaz bêbado tinha se referido a
um "corpo" fresquinho. Não se sabe porque, mas aquilo fez
Vitória chorar. E chorou até chegar em casa. Passou alguns
dias em paz. Nove dias após, o sonho voltava e tornava a
passear com o tio, dessa vez ele estava feliz e disse:
__ Obrigado Vitória sem você não conseguiria meus pés

de volta, e sem meus pés não tinha como caminhar e seguir
o meu destino. Aquele que o "homem" traçou para mim.
Agora posso realmente ir em busca do que preciso.
A partir daí, sua vida voltou ao normal. Embora não saiba

até hoje porque foi a escolhida para aquela função.
Pode perceber que ele queria a ajuda da mãe dela, que era
uma pessoa que sabia lidar com essas coisas. Só não
entendia porque havia sido a escolhida. Para isso ele
poderia ter usado qualquer um de seus irmãos,
principalmente o mais novo que morara com ele.
Mas esse será um mistério que carregaria por toda a vida.
Sem que ninguém soubesse, foi a algumas missas as segundas

feiras, pois havia uma igreja próxima a escola. Continuava
sem entender os acontecimentos. Era uma adolescente
introvertida e sem sal, como costumava-se dizer. Gostava de
ver as coisas e ouvir as duas versões para poder tirar partido
de um dos lados, era ponderada e bastante razoável em suas
decisões e atos, mas quando o assunto era fé e crença, a história
mudava de figura. Era uma eterna contestadora, não acreditava
que determinada coisa era assim por que diziam. Precisava de
provas e naquele caso havia tido. Tinha sido, sabe lá Deus porque
o instrumento entre um espírito e uma matéria para que o
primeiro tivesse a chance de obter o que lhe era indispensável
para dar continuidade a sua vida fora do corpo. Esse não foi o
único episódio que fez om que passasse a acreditar que era real
o elo existente entre um lado e outro. E sua espiritualidade jamais fora colocada em prática, mas vez por outra era testada.
A história com o tio deu medo, mas também lhe trouxe a sensação

de que há algo muito superior àquilo no qual acreditava entre
Céu e terra, morte e Vida, ser e existir e principalmente no
contato entre vidas que não se vêem, mas conseguem a devida
sintonia. Na última missa, deixou sob a imagem de
N. Sr.ª das Graças à oração que tinha recebido da família,
o fato de não conter fotos fez com que se sentisse mais aliviada.
Ao sair da Igreja, ainda em um praça próxima, viu que um
homem lhe observava. O olhar era idêntico ao do tio e quando
sorriu não teve dúvidas que ele estava próximo, muito
próximo dela. Durante algum tempo, não sonhou com ele,
apenas três anos depois quando veio lhe trazer algo que
poderia ter mudado toda sua vida, mas como não conseguiu
entender a mensagem,deixeu escapar a chance. Nesse mesmo
sonho ele contava que havia conseguido atingir o lugar que lhe
fora destinado, e que estava muito bem. Foi essa a última visão
que teve dele. Não guarda fotos e hoje passados 21 anos nunca
mais teve notícias dele, lhe fazendo acreditar que esteja muito
bem, ou quem sabe já entre nós novamente??????????



Minha rua,minha infância

Passava com minha mãe e irmão na rua Luis Coutinho
Cavalcante,qdo vimos surgir três homens fortemente
armados e entrar na frente do carro em que estávamos.
Meu irmão perdeu a direção e não fosse a rua de terra
próxima,poderíamos ter sofrido um grave acidente.
O alvo não era o gol do meu irmão e sim o carro que
vinha atrás de nós e parou no sinal. Chegar em casa
aquela noite foi difícil,sabemos que a violência no Rio
está grande,mas a sutuação fez com que seguissemos
viagem em silêncio.Cheguei em casa e o sono demorou
a chegar,fiquei pensando no que acontecera a família
do carro abordado.Mas algo me entristecia muito mais
naquele episódio. A rua Luis Coutinho Cavalcante era
nossa velha conhecida. Ela era a rua principal que dava
acesso à rua em que moramos anos antes.
Situada no Bairro de Guadalupe,subúrbio da Central do

Brasil,ficava a rua Antônio Maria,rua essa responsável
por boa parte da minha infância.
Cheguei naquela pacata rua aos sete anos vinda da Bahia,

onde morara até então. O cj de 04 apartamentos e uma
casa nos fundos formavam o local onde agradavelmente
vivia. Como todo local de muitas crianças,a diversão era
garantida,assim tb como as confusões.
Na rua tinha a escola municipal Oswaldo Goeldi onde fiz

amigos que guardo no coração até hj.
A rua Antônio Maria,é comprida e possui duas esquinas

transversais,ambas vão dar na rua Luis Coutinho
Cavalcante.Uma dessa esquinas possui um rio
completamente poluído,mas que quando transbordava
fazia a alegria da criançada.
Festas juninas e americanas,jogos da copa do mundo,

final de ano...tudo era motivo para reunir a criançada
e muitos adultos. Como todo lugar que tem muita
criança,confusões não faltavam. Tínhamos uma
associação de moradores e o presidente dela
era um homem educado,inteligente e simpático,já a
primeira dama,como costumava-se chamá-la,era um
purgante.Implicava com tudo e com todos,furava a bola
das crianças e não fazia questão de ser simpática com
ninguém.Como tinha deficiência em uma das pernas
e era gorda,logo ficou conhecida por baleia manca.
Junto com os chatos tinha também o mais fofoqueiro
que atendia por Pantaleão,o mais brigão que após
descobrir um problema sério no coração,transformou-se
em uma doce criatura,passando a ser chamado de
"coração de Betina",tinha a vizinha que jurava ver
visões e gritava feito louca ficando nua dentro de casa,a outra
que fazia todas as refeições na rua para não perder
nenhuma novidade e ainda varria o portão com roupão
de banho,para delírio dos meninos. rss
Mas a vida ali,tb tinha suas tristezas. O rio quando

transbordava era alegria para as crianças,mas não
para quem perdia o pouco que tinha. A escola ficou
por mais de um ano sevindo de abrigo para outras
comunidades que perderam suas coisas. A moça que
ficava nua,o meu melhor amigo,o brigão e um vizinho
querido morreram. Os dois últimos tiraram a própria
vida. E em cada um desses episódios era evidente a
tristeza. Até mesmo ir até a linha férrea colar chiclete
no sinal para ver os trens pararem,perdiam a graça
em momentos como esses.
Havia o Estrelinha futebol clube,o time local que fazia

sucesso entre as meninas da rua e vizinhas. O brinde
para cada gol feito,era um beijo daquela eleita pelo
menino. Era divertidíssimo. Tinha uniforme para torcida
organizada,ensaios de dança e etc...claro que os pais
ficavam loucos. Ninguém segurava a garotada em época
de jogos do EFC. Tinha também a turma do poker,
formada por homens adultos que se reuniam de sexta
à domingo dia e noite em sistema de ridízio para
a jogatina. Jogavam valendo dinheiro e tudo o que
arrecardavam iam para uma conta,onde se transformava
em uma mega festa para o dia das crianças. Era com
orgulho que nós da rua usávamos a camisa da turma
de apoio,organizando e criando brincadeiras,eventos
e comidas para as comunidades vizinhas que já sabiam
do evento. Era todo dia 12-10 de 09 ás 19hs. E era
sempre o maior sucesso. Lembro que um dia,já
as vésperas de mudar,cheguei do trabalho e uma
grande confusão estava armada.Era um sábado por
volta das 14 hs. Nunca tinha visto tanta gente na rua
que morava e nas vizinhas. Entrando em casa fiquei
sabendo que foi descoberto em uma fábrica no final
da rua,um depósito clandestino de um refrigerante
da marca cola. houve uma invasão ao local,o boato
foi se espalhando e logo as pessoas desciam dos ônibus
para pegar o refrigerante em lata. Embora ninguém
soubesse a procedência da bebida a situação ficou tão
sem controle que as pessoas passavam com baldes,carros
de bêbes,carrinhos de mão,cesto de roupa e tudo o que
encontravam pela frente,inclusive os próprios carros.
Coube a polícia apenas dar apoio,já que a ordem foi
difícil ser estabelecida. Um vendedor de refrigerantes
que passava todo sábado vendendo,quase foi linchado
quando entrou na rua, e acabou indo também pegar
sua parte. O tumulto foi parar nas rádios e no domingo,
embora ainda houvesse carga no local,não foi mais
permitida a entrada de ninguém.
Eu grávida e vivendo um momento bem difícil,me diverti

olhando pela janela de casa, as formas que aquelas
pessoas encontravam para driblar os problemas e
sorrir um pouco. A rua Antônio Maria era tudo de bom.
Nela nasceram meus três irmãos mais novos,foi dela
que rumei a igreja vestida de noiva e também foi lá que
meu filho nasceu. Sair de lá foi doloroso porque
deixava uma infância difícil sim,mas muito feliz.




Agora são Horas e Minutos - Seja Bem Vindo(a)
Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi.
(Mário de Andrade)