sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Amor incondicional.


Certa vez me disseram que a mente humana pode ser nossa
melhor aliada,mas também nossa pior inimiga.
E pensava nisso enquanto lia uma carta de alguém distante.
Em tempos de correio eletrônico parece incomum esse tipo
de comunicação, mas é uma linguagem imensamente prazerosa.
Essa carta me pegou em um momento nostálgico, cheio de
lembranças. Havia sonhado com minha avó e isso era tão
raro que sempre que acontecia passava horas e até dias
tentando relembrar cada detalhe. Era bom demais ser
“visitada” por alguém que me fez o que sou.
Mesmo que o sonho em questão tivesse sido uma bronca
daquelas. Soube da “partida” de minha avó em um dia lindo
de verão no Rio de Janeiro, mas curiosamente senti como
se o céu tivesse nublado de repente. A sensação era estranha
e nunca vivida antes.
Não nos víamos mais há anos, mas o amor que sentíamos
uma pela outra era incondicional e sem fronteiras.
Havia uma espécie de telepatia entre nós e isso causou alguns
constrangimentos.
Morei com dona Eulina até os sete anos e aprendi ali com
aquela mulher determinada que ao contrário do que dizem
não podemos tudo o que queremos.
Criança arteira dei muitas dores de cabeça aquela que
inicialmente chamei de mãe e depois carinhosamente
de minha velha. Subia e caia de árvores, brigava como menino
e até sangue tirava das colegas,pegava frutas no quintal vizinho
embora tivesse um pomar no nosso,acendia o fogão a gás mesmo
sabendo que o utilizado era o de fogo à lenha. A tudo isso era
repreendida severamente por dona Eulina, que não dava castigos
e sim surras. Pessoas próximas muitas vezes achavam uma tirania
a forma que ela educava. Mas era com atenção e quase devoção que
percebia seu olhar e sorriso de canto de boca quando eu era elogiada
por amigos dela. Era arteira sim,mas mesmo com tão pouca idade era extremamente participativa.
Ajudava em tudo e a todos. Era solidária e amigável.
Mas jamais conheci alguém tão querida como minha avó.
Gostava de sentar no seu colo e ficar puxando a pele do pescoço,
enquanto ouvia suas histórias. Mulher decidida e corajosa nunca
deixava alguém lhe ver uma lágrima nos olhos,ainda que sua
expressão demonstrasse toda angústia e sofrimento.
Me deliciava em ver-lhe sentar com as pernas longas cruzadas
e passar horas coçando o queixo,pensando na vida.
Dona Eulina xingava presidentes da república e vilões de
novelas,mas sabia o hino nacional inteiro e só ouvia sua execução
de pé e com a mão no peito. Adorava Lady Diana e idolatrava o papa
João Paulo II. Mulher altiva que era,quando algo a aborrecia ou
preocupava a veia do pescoço pulsava (a minha também) denunciando
muitas vezes sua tentativa de não preocupar as pessoas.
Tinha uma beleza suave,mas um temperamento de rompantes.
Adorava uma roda de samba e dançava como poucas.
Mãe severa e austera,mas dona de um coração e compreensão
que dificilmente alguém não se comovia com suas atitudes de leoa
para proteger suas crias. Foi a essa pessoa que a carta me remeteu.
Lembrava dela diariamente,nem que fosse por um segundo.
Soube que sua partida foi tranqüila e suave. Tomou banho,deitou-se
e não levantou. Serena era sua fisionomia,contrastando com a dor
de parentes e amigos que não se conformavam com a perda.
Estou longe de ser como ela,mas aprendi coisas que me acompanham
até hoje. Entre elas o respeito ao ser humano e suas convicções,ainda
que não compartilhe delas.
Minha véia,vou repetir em palavras o que lhe disse em sonho.
Enquanto estiver respirando,vou continuar cometendo erros
e falhas,mas por favor não desista de mim. Brigue,xingue,me puxe
as orelhas que ainda assim lhe amarei eternamente.

Mudanças em 2009

2009 é o Ano da Reforma Ortográfica. Em casos como
AUTOESTIMA o hífen cai. A sua que não pode cair.
Em algumas palavras, o acento desaparece, como em
FEIURA. Aliás, poderia desaparecer a palavra toda.
O acento também cai em IDEIA, só que dela a gente
precisa. E muito!O trema sumiu em todas as palavras,
como em INCONSEQUÊNCIA, que também poderia sumir
do mapa.. Assim ,a gente ia viver com mais TRANQUILIDADE.
Mas nem tudo vai mudar. ABRAÇO continua igual.
E quanto mais apertado, melhor. AMIZADE ainda é
com "Z", como VIZINHO, FUTEBOLZINHO, BARZINHO.
Expressões como "EU TE AMO", continuam precisando
de ponto. Se for de exclamação, é PAIXÃO, que continua
com "X", como ABACAXI, que gostando ou não, a gente
ainda vai ter alguns para descascar. SOLITÁRIO ainda
tem acento, como SOLIDÁRIO, que muda só uma letra,
mas faz uma enorme diferença.CONSCIÊNCIA ainda é
com SC, como SANTA CATARINA, que precisa tocar a
VIDA para frente.E por falar em VIDA, bom, essa muda
o tempo todo, e é por isso que emociona tanto!!!

(Recebi esse texto por e-mail da minha amiga Sandra,
gostei e quis compartilhar,aproveite e passe no blog dela,
lá irá encontrar coisas interessantes e inteligentes. O link
para o Sopa de entulho está ao lado).Obrigada lindona.

Saúde animal


Hoje o meu coração e da minha
esposa ficou menor, pois tive
mos que decidir por fazer a
eutanásia de nosso cão de
apenas 6 meses.Saímos para
viajar logo após o Natal e
pedimos a minha irmã para
cuidar dele no que fosse preciso.
Tudo estava bem até o nosso
quarto dia de viagem,quando
recebemos um telefonema dela
dizendo que ele (nosso cão)
não estava legal, mas logo pensamos
que era saudades. Assim que chegamos
em casa percebemos que não era saudades
e sim algum tipo de doença que impedia ele de ficar em pé.
No dia seguinte no primeiro horário
levamos ele até o veterinário e foi constatado que ele
estava com CINOMOSE. A doença atacou o
nosso animal no sistema nervoso e ele ficaria
com seqüelas graves caso sobrevivesse com o tratamento.
Por esse motivo decidimos pela eutanásia, até porque
seria pior para todos nós ter um animal TOTALMENTE
dependente. Quero deixar um alerta para todas as pessoas
que NÃO DEIXEM DE VACINAR seus bichos de estimação,
pois a dor de se perder um é muito grande.
Quem achar que vale a pena divulgar esse e-mail
fique a vontade e quem sabe evitar outras mortes
como a do LOBO!
Segue aqui um link que esclarece mais sobre a doença:
http://www.homeopatiaveterinaria.com.br/cinomose.htm


Obrigado.
(Esse e-mail me foi enviado por meu irmão
e estou divulgando).

Lembranças

Mesmo muitos anos depois,sempre que recordava aqueles
momentos, se indagava se não teria passado por tal
experiência em razão da religião que um dia quase
praticara, mas que mesmo não fazendo, ainda hoje
tinha motivos reais para acreditar que coisas como
aquelas acontecem. Criada dentro da religião da mãe,
ainda que desde menina apresentasse problemas
relativos a espiritualidade, tanto a própria mãe
como ela, optaram por não se infiltrar na religião.
Era tudo muito lindo, mas exigia uma obediência e
doutrina que não se achava capaz de seguir.
Não que fosse desobediente, mas nesse sentido era
insubordinada e questionava coisas, que na maioria
das vezes não conseguiam explicar-lhe. E é exatamente
por isso que lhes conto um fato que ocorreu em 1988.
Para isso terei que voltar um pouco no tempo.
Onde nossa personagem tinha apenas 15 anos.
Era dezembro, estava com a mãe na cozinha fritando
uns pastéis para festa de amigo oculto que ela teria no trabalho,
quando adentraram pela porta a tia,com o marido e uma mulher
que logo vieram a saber, que se tratava de uma assistente social.
Algum tempo depois o desespero era total. O tio dela falecera.
Um homem que durante 25 anos trabalhara como caminhoneiro
de uma mesma empresa, sem jamais sofrer qualquer acidente,
no dia que faria sua última viagem antes de se aposentar, quis
o destino que uma scânia batesse de frente com ele.
O consolo? A morte tinha sido instantânea. Foram as palavras

da assistente social, profissional que estava ali a mando da
conhecida empresa (hoje já extinta) para resolver a parte
burocrática do ocorrido.
O homem falecera em uma quarta-feira, mas como tinha

sido em São Paulo, até que tudo fosse resolvido, seu
sepultamento só pôde ser feito no sábado. Não compareceu,
pois tinha pavor de defuntos e mesmo o tio sendo uma pessoa
muito querida, optou por ficar em casa olhando os irmãos
mais novos. Todos que lá estiveram, estarrecidos ficaram com
o que viram (ou melhor, com o que não puderam ver), já que o
estado adiantado de decomposição do corpo, fizera com que
fosse enterrado em caixão blindado.
Não é necessário dizer que naquele ano, não houve festividades

de final de ano como era de costume na casa.
Tudo parecia normal, até que em Março, três meses após o

episódio começou a sentir-me mal. Passava todo o tempo vendo
a imagem do tio, durante a noite, quando conseguia dormir, era
sempre acordada por alguém que dizia que estava chorando.
Passou a rezar sempre antes de deitar, mas nada parecia surtir
efeito. Perdia peso, não se alimentava, tinha pavor da noite, e
principalmente de dormir ou ficar só.
Um dia a mãe irritada com tudo o que acontecia, mas que até

então permanecera sem agir, por achar que podia haver um
certo exagero por parte da filha, resolveu fazer algo.
O banho indicado,e as ervas colocadas sob o
travesseiro,fez com que adormecesse.
E aí o pesadelo começou:
Estava em uma estrada sozinha e com medo, quando um

caminhão passava e parava diante dela. Sorriu ao ver
aliviada que o motorista era o tio. Subiu no carro e ficaram
passeando por um pequeno jardim. As flores ainda pareciam
frescas, prova de que alguém as colocara ali há pouco tempo,
o tio até então calado começou a dizer:
__ Ali estou eu Vitória__ Não entendi.__ Pelo menos,

ali está o que enterraram de mim.__ continuou ele.
__ E como está falando comigo aqui?
__ Está sonhando. Estive todo esse tempo perto de você,

mas nunca lembrava do sonho ou das sensações, por
causa do medo.
__ E o que quer de mim?
__ Você é a única que pode me trazer o que preciso para descansar.
__ E Como posso fazer isso?
__ Conte a sua mãe o que sonhou, ela saberá o que fazer.
__ E o que quer?
__ Ali __ disse apontando para o jardim __ está apenas uma

pequena parte do meu corpo.
Estremeceu e não conseguiu esconder o medo. O caminhão

saiu dali e pegou uma estrada. Na memória vinha a lembranças
dos comentários daqueles que haviam ido ao sepultamento.
Em seu rosto não havia nada que demonstrasse medo ou horror
nos presentes. Não sei como, mas a sensação era a de que realmente
estava vivendo aquilo e não apenas sonhando.
Em determinado momento ele parou bruscamente e ficou com o

olhar perdido em um ponto da estrada. E falou de repente:
__ É ali que está o que quero que me devolva. Vitória,

quase todo o meu corpo ficou ali, mas não consigo encontrar
paz, sem comida e sem meus pés. Por favor, me traga meus pés.
Recusou-se a fazer o que ele pedia, e ele começou a gritar.

Acordou também gritando. Contou apavorada a mãe o que
havia sonhado. Primeiro ela, não deu muito crédito.
Quando percebeu que era realmente verdade, começou
a blasfemar. Havia uma fúria contida nas coisas
que dizia. Quem a ouvisse falar daquele jeito, com certeza
pensaria que estava maluca.
Apesar de já estar convencida de que o perigo rondava,

a mãe nada fez e os sonhos tornaram-se cada vez mais freqüentes
e horríveis. Cada vez sentia mais medo. Até que não
agüentando mais, a debilitação, dois amigos da família
conseguiram convencer a mãe teimosa a agir.
O trabalho foi feito em um cemitério, com a presença dos

dois amigos. Foi ainda na porta, que começaram.
Cada um concentrado em suas funções. Apenas Vitória
não tinha nada para fazer, só pediram fé.
Sem as brincadeiras costumeiras e sem titubear.
A segunda parte teria que ser feita do lado de dentro,

e se recusou a entrar. Ficou parada na porta aguardando-os.
Eles desapareceram e ela parada. De repente um pombo branco
parou aos seus pés para comer os grãos que ali haviam sido
colocados. Ficou extasiada olhando aquele bichinho e quando
ele voou indo para o interior do cemitério, foi atrás dele,
como se hipnotizada estivesse. Era a primeira vez que entrava
em um lugar como aquele. Caminhava lentamente pela rua,
as capelas já estavam fechadas.
Já havia andando um bom pedaço, quando alguém falou:

"Aqui teve um fresquinho hoje", olhou e reparou que havia
um enorme arranjo de flores, muito parecido com o que
vira no sonho. Reparei na pessoa que falara aquilo, era um
jovem bêbado, fazendo sabe-se lá o quenaquele lugar.
Ao longe viu que os três acompanhantes retornavam.

Comentou o que ouvira e o que não levava nada muito a
sério disse rindo que o rapaz bêbado tinha se referido a
um "corpo" fresquinho. Não se sabe porque, mas aquilo fez
Vitória chorar. E chorou até chegar em casa. Passou alguns
dias em paz. Nove dias após, o sonho voltava e tornava a
passear com o tio, dessa vez ele estava feliz e disse:
__ Obrigado Vitória sem você não conseguiria meus pés

de volta, e sem meus pés não tinha como caminhar e seguir
o meu destino. Aquele que o "homem" traçou para mim.
Agora posso realmente ir em busca do que preciso.
A partir daí, sua vida voltou ao normal. Embora não saiba

até hoje porque foi a escolhida para aquela função.
Pode perceber que ele queria a ajuda da mãe dela, que era
uma pessoa que sabia lidar com essas coisas. Só não
entendia porque havia sido a escolhida. Para isso ele
poderia ter usado qualquer um de seus irmãos,
principalmente o mais novo que morara com ele.
Mas esse será um mistério que carregaria por toda a vida.
Sem que ninguém soubesse, foi a algumas missas as segundas

feiras, pois havia uma igreja próxima a escola. Continuava
sem entender os acontecimentos. Era uma adolescente
introvertida e sem sal, como costumava-se dizer. Gostava de
ver as coisas e ouvir as duas versões para poder tirar partido
de um dos lados, era ponderada e bastante razoável em suas
decisões e atos, mas quando o assunto era fé e crença, a história
mudava de figura. Era uma eterna contestadora, não acreditava
que determinada coisa era assim por que diziam. Precisava de
provas e naquele caso havia tido. Tinha sido, sabe lá Deus porque
o instrumento entre um espírito e uma matéria para que o
primeiro tivesse a chance de obter o que lhe era indispensável
para dar continuidade a sua vida fora do corpo. Esse não foi o
único episódio que fez om que passasse a acreditar que era real
o elo existente entre um lado e outro. E sua espiritualidade jamais fora colocada em prática, mas vez por outra era testada.
A história com o tio deu medo, mas também lhe trouxe a sensação

de que há algo muito superior àquilo no qual acreditava entre
Céu e terra, morte e Vida, ser e existir e principalmente no
contato entre vidas que não se vêem, mas conseguem a devida
sintonia. Na última missa, deixou sob a imagem de
N. Sr.ª das Graças à oração que tinha recebido da família,
o fato de não conter fotos fez com que se sentisse mais aliviada.
Ao sair da Igreja, ainda em um praça próxima, viu que um
homem lhe observava. O olhar era idêntico ao do tio e quando
sorriu não teve dúvidas que ele estava próximo, muito
próximo dela. Durante algum tempo, não sonhou com ele,
apenas três anos depois quando veio lhe trazer algo que
poderia ter mudado toda sua vida, mas como não conseguiu
entender a mensagem,deixeu escapar a chance. Nesse mesmo
sonho ele contava que havia conseguido atingir o lugar que lhe
fora destinado, e que estava muito bem. Foi essa a última visão
que teve dele. Não guarda fotos e hoje passados 21 anos nunca
mais teve notícias dele, lhe fazendo acreditar que esteja muito
bem, ou quem sabe já entre nós novamente??????????



Minha rua,minha infância

Passava com minha mãe e irmão na rua Luis Coutinho
Cavalcante,qdo vimos surgir três homens fortemente
armados e entrar na frente do carro em que estávamos.
Meu irmão perdeu a direção e não fosse a rua de terra
próxima,poderíamos ter sofrido um grave acidente.
O alvo não era o gol do meu irmão e sim o carro que
vinha atrás de nós e parou no sinal. Chegar em casa
aquela noite foi difícil,sabemos que a violência no Rio
está grande,mas a sutuação fez com que seguissemos
viagem em silêncio.Cheguei em casa e o sono demorou
a chegar,fiquei pensando no que acontecera a família
do carro abordado.Mas algo me entristecia muito mais
naquele episódio. A rua Luis Coutinho Cavalcante era
nossa velha conhecida. Ela era a rua principal que dava
acesso à rua em que moramos anos antes.
Situada no Bairro de Guadalupe,subúrbio da Central do

Brasil,ficava a rua Antônio Maria,rua essa responsável
por boa parte da minha infância.
Cheguei naquela pacata rua aos sete anos vinda da Bahia,

onde morara até então. O cj de 04 apartamentos e uma
casa nos fundos formavam o local onde agradavelmente
vivia. Como todo local de muitas crianças,a diversão era
garantida,assim tb como as confusões.
Na rua tinha a escola municipal Oswaldo Goeldi onde fiz

amigos que guardo no coração até hj.
A rua Antônio Maria,é comprida e possui duas esquinas

transversais,ambas vão dar na rua Luis Coutinho
Cavalcante.Uma dessa esquinas possui um rio
completamente poluído,mas que quando transbordava
fazia a alegria da criançada.
Festas juninas e americanas,jogos da copa do mundo,

final de ano...tudo era motivo para reunir a criançada
e muitos adultos. Como todo lugar que tem muita
criança,confusões não faltavam. Tínhamos uma
associação de moradores e o presidente dela
era um homem educado,inteligente e simpático,já a
primeira dama,como costumava-se chamá-la,era um
purgante.Implicava com tudo e com todos,furava a bola
das crianças e não fazia questão de ser simpática com
ninguém.Como tinha deficiência em uma das pernas
e era gorda,logo ficou conhecida por baleia manca.
Junto com os chatos tinha também o mais fofoqueiro
que atendia por Pantaleão,o mais brigão que após
descobrir um problema sério no coração,transformou-se
em uma doce criatura,passando a ser chamado de
"coração de Betina",tinha a vizinha que jurava ver
visões e gritava feito louca ficando nua dentro de casa,a outra
que fazia todas as refeições na rua para não perder
nenhuma novidade e ainda varria o portão com roupão
de banho,para delírio dos meninos. rss
Mas a vida ali,tb tinha suas tristezas. O rio quando

transbordava era alegria para as crianças,mas não
para quem perdia o pouco que tinha. A escola ficou
por mais de um ano sevindo de abrigo para outras
comunidades que perderam suas coisas. A moça que
ficava nua,o meu melhor amigo,o brigão e um vizinho
querido morreram. Os dois últimos tiraram a própria
vida. E em cada um desses episódios era evidente a
tristeza. Até mesmo ir até a linha férrea colar chiclete
no sinal para ver os trens pararem,perdiam a graça
em momentos como esses.
Havia o Estrelinha futebol clube,o time local que fazia

sucesso entre as meninas da rua e vizinhas. O brinde
para cada gol feito,era um beijo daquela eleita pelo
menino. Era divertidíssimo. Tinha uniforme para torcida
organizada,ensaios de dança e etc...claro que os pais
ficavam loucos. Ninguém segurava a garotada em época
de jogos do EFC. Tinha também a turma do poker,
formada por homens adultos que se reuniam de sexta
à domingo dia e noite em sistema de ridízio para
a jogatina. Jogavam valendo dinheiro e tudo o que
arrecardavam iam para uma conta,onde se transformava
em uma mega festa para o dia das crianças. Era com
orgulho que nós da rua usávamos a camisa da turma
de apoio,organizando e criando brincadeiras,eventos
e comidas para as comunidades vizinhas que já sabiam
do evento. Era todo dia 12-10 de 09 ás 19hs. E era
sempre o maior sucesso. Lembro que um dia,já
as vésperas de mudar,cheguei do trabalho e uma
grande confusão estava armada.Era um sábado por
volta das 14 hs. Nunca tinha visto tanta gente na rua
que morava e nas vizinhas. Entrando em casa fiquei
sabendo que foi descoberto em uma fábrica no final
da rua,um depósito clandestino de um refrigerante
da marca cola. houve uma invasão ao local,o boato
foi se espalhando e logo as pessoas desciam dos ônibus
para pegar o refrigerante em lata. Embora ninguém
soubesse a procedência da bebida a situação ficou tão
sem controle que as pessoas passavam com baldes,carros
de bêbes,carrinhos de mão,cesto de roupa e tudo o que
encontravam pela frente,inclusive os próprios carros.
Coube a polícia apenas dar apoio,já que a ordem foi
difícil ser estabelecida. Um vendedor de refrigerantes
que passava todo sábado vendendo,quase foi linchado
quando entrou na rua, e acabou indo também pegar
sua parte. O tumulto foi parar nas rádios e no domingo,
embora ainda houvesse carga no local,não foi mais
permitida a entrada de ninguém.
Eu grávida e vivendo um momento bem difícil,me diverti

olhando pela janela de casa, as formas que aquelas
pessoas encontravam para driblar os problemas e
sorrir um pouco. A rua Antônio Maria era tudo de bom.
Nela nasceram meus três irmãos mais novos,foi dela
que rumei a igreja vestida de noiva e também foi lá que
meu filho nasceu. Sair de lá foi doloroso porque
deixava uma infância difícil sim,mas muito feliz.




Doce Magia

"Quem já foi a Bahia
Viu encanto e magia
Quem fez o samba para ela
E ela cantarolou...
Quem traçou lindos versos,
Poemas incertos,
Quem nunca amou.
Quem acredita na missa,
Quem reza a verdade,
Intui a sinceridade.
Quem é pregador
Quem tem boa lembrança
Da infância que passou.
Quem tem raiz
Tem esperança
Quem tem um vento...levou
Que mesmo na memória
Ou na sua própria história
Traga o que de bom restou.
Quem não tem o que trazer.
Que vá no seu "eu" buscar.
Traga versos e poemas
Lindos em todo seu expressar.
Traga a poesia e a meta,da luta
De AMAR "

(Esse poema foi dedicado a mim pelo próprio autor).

Se não sabe beber...


Quando iniciou seu namoro com Júlio,
adiqüirram o hábito de irems a um lugar
que gostavam muito e que facilitava o
transporte, já que pegávam o ônibus no
ponto final e descíam no outro final. Mesmo após
ter comprado o carro, vez ou outra íam lá.
No caminho de volta passavam em frente a um
restaurante italiano que tinha um espaço externo
fabuloso. Ficava sempre olhando com cara de
cachorro que olha para frango de padaria.
Como era um local muito caro, ficava completamente
fora do orçamento. Só não sabia que Júlio não ficara
indiferente aos seus olhares.
Faltando dois dias para o aniversário dela, ele falou:
_ Te pego amanhã ás 20hs, fique pronta.
_Onde iremos?
_ É surpresa, mas não se atrase.
Ficou ansiosa para saber do que se tratava.
No dia seguinte estava pronta quando ele chegou.
O olhar dele aprovava o visual. Ela mesma havia se
surpreendido com as mudanças que uma maquiagem
faz em uma pessoa.Em mais ou menos quarenta
minutos estavam na Tijuca, parados no estacionamento
do restaurante. Ela boquiaberta e ele divertido
com sua expressão. O garçom aproximou-se para
anotar os pedidos.
_ Um chope e uma caipirinha. _ disse Júlio.
_ Não vou beber caipirinha nenhuma. Você sabe
que não bebo.
_ Ah preta! Hoje é um dia especial, faz alguma
coisa diferente.
O garçom continuava pacientemente esperando
que resolvessem.
_ Caipirinha ou Caipiríssima? _ perguntou o homem?
Fez a opção sem perguntar qual a diferença,
entre uma e outra.Quando a bebida chegou não
aprovou o sabor, mas decidiu bebê-la mesmo
assim. Mas no terceiro gole já estava tonta,
comentou com Júlio. _É a falta de costume,
assim que comer vai se sentir melhor.
Quando o prato chegou, o enjôo era tão grande
que quase vomitou. O copo era grande e ainda
estava pela metade. Júlio falava enquanto comia
e ela mal divisava sua imagem. Depois de muito
tempo tentando se restabelecer, chegou finalmente
a hora de irem para casa. Só chegou ao carro porque
foi praticamente guinchada por Júlio.
O vento no rosto fez bem, mas para surpresa de
Júlio, começou a cantar, colocava o rosto para
fora do carro e cumprimentava os poucos motoristas
que ali passavam àquela hora. Pendurou-se no pescoço
dele e falava todo o alfabeto, conforme os profissionais
da área dele usavam. Ou seja, uma reação completamente
atípica da que costumava ter. Sabia exatamente tudo
o que estava fazendo, mas não conseguia controlar
a vontade de continuar fazendo. Estava se divertindo.
_ Por quê estamos nessa estrada? _ perguntou ao
reconhecer a serra?
_ Acho que não deve chegar em casa desse jeito.
_ Não quero chegar tarde em casa. Preciso acordar
cedo para ajudar minha mãe.(na verdade, tirando as
vezes que viajava, nunca dormia fora de casa).
_ Não se preocupe é só o tempo de se recuperar
um pouco.Paramos em frente a casa dele e apesar
da dificuldade de subir as escadas, logo estava sentada
no sofá e foi aí que percebeu que estavam sós.
_ Onde está todo mundo?
_ Foram passar o feriado fora.
_ Hum... Começo a sentir cheiro de armação.
Júlio sorriu sem jeito, e ela gargalhou de suas idéias
eróticas. Logo percebeu a intenção dele,mas não
se opôs. O noivo insaciável recomeçou novo trajeto
pelo corpo dela. Aí tudo começou a escurecer.
_ Valéria, acorde. Temos que ir.
_ Que horas tem?
_ São quase 03hs.
Levantou-se e foi para o banheiro, já estava no
chuveiro quando lembrou que havia adormecido
ou desmaiado (não sabia o que tinha havido),
quando Júlio ensaiava sua performance sexual.
Encontrou-o na sala já vestido.
_ Desculpe por ter adormecido em hora tão imprópria.
_ Para mim não foi obstáculo nenhum.
_ Como é? Está querendo dizer que me usou
enquanto estava desacordada?
_ Eu não usei ninguém, você é minha noiva e
eu fiz de tudo para acordá-la.
De repente sentiu o enjôo aumentar. Não era a
toa que diziam que buraco de bêbado não tem dono.
Júlio nada dizia, mas olhava como se ela estivesse
tendo uma crise sem razão. Parecia loucura, mas
ele julgava certo o que havia feito.
Já em casa passou mal o resto da noite e ainda estava
deitada quando Júlio voltou. O dia de seu aniversário
chegava encontrando seus pensamentos e sentimentos
nublados.Não conseguia aceitar o que havia acontecido,
desde a bebedeira (ainda que apenas um copo) que lhe
fez tanto mal, até o desfecho de tudo aquilo.
As pessoas de todo ano estavam chegando. Seu pai sem
saber o motivo do mal estar, apareceu com um
copo na mão.
_ Não quer um gole? Vai ajudar a se sentir melhor.
_ Não. Estou convencida de que quem não sabe
beber bebe mijo.
É claro que o pai não entendeu nada, mas Júlio
percebeu que o ocorrido realmente havia feito um
grande estrago. Só não sabia se ele atinava qual teria
sido a pior parte da história .
Ela por sua vez,aprendera a lição:
Se não sabe beber...

A Ratoeira...


"Um rato olhando pelo buraco na parede vê o fazendeiro e
sua esposa abrindo um pacote. Pensou logo em que tipo de
comida poderia ter ali.
Ficou aterrorizado quando descobriu que era uma ratoeira.
Foi para o pátio da fazenda advertindo a todos:
"Tem uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa."
A galinha, que estava cacarejando e ciscando, levantou a
cabeça e disse:
"Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que é um grande problema
para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda."
O rato foi até o porco e disse a ele:
"Tem uma ratoeira na casa, uma ratoeira."
"Desculpe-me Sr. Rato, mas não há nada que eu possa fazer,
a não ser rezar. Fique tranqüilo que o senhor será lembrado
nas minhas preces."
O rato dirigiu-se então à vaca. Ela disse:
"O que Sr. Rato? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo?
Acho que não!"
Então o rato voltou para a casa, cabisbaixo e abatido, para
encarar a ratoeira do fazendeiro.
Naquela noite ouviu-se um barulho, como o de uma ratoeira
pegando sua vítima. A mulher do fazendeiro correu para ver
o que havia pego. No escuro, ela não viu que a ratoeira pegou
a cauda de uma cobra venenosa.
A cobra picou a mulher.
O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital.
Ela voltou com febre. Todo mundo sabe que para alimentar
alguém com febre, nada melhor que uma canja.
O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente
principal.Como a doença da mulher continuava, os amigos
e vizinhos vieram visitá-la.
Para alimentá-los o fazendeiro matou o porco. A mulher não
melhorou e muitas Pessoas vieram visitá-la.
Muita gente veio vê-la o fazendeiro então sacrificou a vaca
para alimentar todo aquele povo."

(Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante
de um problema e acreditar que o problema não lhe diz
respeito lembre-se que, quando há uma ratoeira na casa,
toda a fazenda corre risco).

(Texto retirado da internet).

Sensatez

O ano estava passando rápido, mas aquela semana
parecia se arrastar. Levantei com a sensação de que
acabara de deitar pois a noite havia sido agitada. Aprendi
que a primeira coisa que devíamos fazer ao acordar era
abraçar a si mesmo. E fazia isso diariamente, gostava da
sensação de dar bom dia ao meu corpo e espírito.
Enquanto esperava o ônibus que levaria meu filho ao

colégio, passava os olhos nos jornais diários em uma banca
próxima. Não havia muita novidade. Cartões corporativos,
violência no trânsito, o caso Isabela, enfim... um
massacre social. Entrei na padaria e os comentários eram
os mesmos dos jornais. Entrei em casa com o pão, mas não
querendo acordar quem ainda dormia, optei por não fazer
o café ainda. Liguei a tv e uma rápida corrida pelos canais
mostrou-me os mesmos assuntos dos jornais escritos e outros
que não prenderiam minha atenção. Sorri pegando o livro que
estava lendo há 03 dias, percebendo que ali estava a razão do
meu desinteresse pelo cotidiano. Ler me fascinava e no momento
estava voltada para O Advogado de John Grisham.
O Advogado mostrava um lado dos EUA que poucos

conheciam. Era difícil acreditar que também lá havia problemas
sociais tão próprios de terceiro mundo. Michael Brock havia
se tornado meu herói. Um homem determinado que sentiu
a necessidade de mudar completamente ao ver em risco sua
vida. Ainda que todos achassem que era loucura o que fazia,
Mike como era chamado, mandara a sensatez pro espaço.
Eu sabia o que era isso. Conhecida como alguém irritantemente

equilibrada e tranqüila, tinha deixado algumas pessoas
frustradas quando decidi deixar um casamento e tudo o que ele
implicava por razões que não conseguiam entender. Na opinião
dessas pessoas, meus motivos não eram suficientes para uma
reação tão definitiva. Era minha primeira grande fuga da sensatez.
Mas ainda viriam outras. Embora fizesse questão de ser uma pessoa

agradável e tolerante, não me prendia muito ao lugar comum.
Levava as coisas até quando achava suportável, mas quando o
peso começava a incomodar, tirava-o do ombro por mais que
doesse e sofresse com a decisão.
Uma das vezes que tal atitude mexeu mais comigo, foi há alguns

anos quando vi minha rotina tão agressivamente invadida.
O resultado disso era visível em minhas inúmeras idas ao
fórum, audiências, cartórios e etc...Passava noites sem dormir,
pensando se agia certo ao levar aquela causa adiante.
E se no futuro perdesse o amor de meu filho em razão disso?
Essa angústia não desejava a ninguém. A emoção dizia que eu
devia parar, mas o amor que sentia pelas pessoas prejudicadas
pelo que me acontecia, fazia com que não amolecesse em minha
decisão. Não era sensato o meu comportamento, mas não podia
me preocupar com isso no momento.
Foi nesse mesmo período que fui apresentada a Internet.

Meu irmão acreditava que me faria bem, já que não gostava
de sair de casa. Segundo ele, seria uma terapia.
No início a novidade não me animou muito. O mundo

desconhecido nada me acrescentava.
Mas aos poucos fui tendo uma visão diferente.

Comecei a descobrir ali um instrumento que ajudava a
resolver muitas coisas, isso sem falar no conhecimento.
Muito tempo depois entrei em meu primeiro bate papo.
Era interessante, divertido e sem conseqüências ruins quando
sabíamos como nos comportar. Era o mundo certo para pessoas
carentes e tímidas como eu. Podia fazer amigos sem precisar
me expor demais. E os fiz. Na verdade fui além, tornei-me
conselheira e confidente de grande parte das pessoas que
conheci. Muitos são até hoje. Aos poucos perdi o interesse
pelas salas, não queria mais responder como eu era, o que
fazia e etc... e como não gostava de mentir, decidi parar um
pouco. Mas continuei usando a Internet. Era um mundo que
não tinha fim. Ali podíamos ir onde quisesse.
Um dia uma amiga me apresentou alguém. Não foi uma

apresentação convencional e nem formal. Não demorou para
que eu voltasse a usar com freqüência um programa de
computador que raramente usava. Nossas conversas
passaram a ser diária.
Era um homem inteligente, bem humorado,
excelente
conversa e extremamente tímido embora risse todo o tempo.
Eu não lembrava quanto tempo uma compainha não me dava
tanto prazer.Um dia respondendo a uma mensagem minha
do celular, que procurava saber o andamento de um ocorrido
ele respondeu:
_Estou voltando agora para o trabalho, foi tudo bem.

Conversamos logo mais à noite.
Li a mensagem diversas vezes. Àquela mensagem parecia

um encontro marcado. Sabia que não fora essa a intenção
dele, mas me senti uma adolescente a espera do namorado.
Uma luz de alerta acendeu. Estava apaixonada.
As coisas caminharam amigavelmente e um dia decidi

contar-lhe o que estava acontecendo. Depois do impacto
com a surpresa, gentilmente me disse que tinha o coração
fechado.Eu já tinha amado duas vezes. Por isso mesmo
sabia o que estava sentindo. Dono de uma simpatia
cativante e pensamentos algumas vezes conservadores,
cada vez me via mais envolvida por aquela figura
misteriosa. Debochado, autoritário, ansioso, auto crítico
e crítico, capaz de irritar facilmente uma pessoa, aquele
homem conseguia esconder sem qualquer problema uma
sensibilidade extrema. Talvez ninguém nunca venha
a ter autorização para aportar naquele coração.
Não sabia o que fazer, como me comportar.

A amizade dele era algo que não admitia perder
por inconseqüência minha, no entanto havia sido liberada
pra não esconder o que sentia. Gostava de ouvir sua voz,
embora esperasse o dia em que ouviria sem tanta risada,
como um recente, "pois não", quando atendeu a um
chamado meu. Companheiro, paciente, observador,
carinhoso, atencioso, solícito, essas e outras coisas
faziam dele um homem como muitas mulheres sonhavam
encontrar. Além da timidez tínhamos outras coisas em
comum, o metodismo, o temperamento difícil e opiniões
divergentes. E por isso não era raro brigarmos, assim como
raro também não era rirmos todo o tempo que conversávamos.
Embora fosse um sentimento tranqüilo, não era fácil.

Gostar de alguém já é uma tarefa difícil sendo correspondido,
imagina quando isso não acontece.
Não sabia como conduzir a situação, a grande dúvida

era: me esforçar pra esquecer o homem e manter o
amigo ou deixar as coisas tomarem seu caminho?
Talvez o mais difícil era não ter com quem desabafar
ou mesmo não sentir vontade de transferir aquele
sentimento pra outra pessoa. Enquanto me aproximava
do final do livro querendo saber como Mike conseguiu
se livrar da prisão, um barulho me chamou a atenção,
levantando as vistas percebi que era o celular vibrando.
A luz vermelha piscava me dizendo quem chamava àquela
hora da manhã, sorri lembrando que há muitos anos atrás
ficaria nas nuvens com aquela ligação. Eu nunca telefonava
pra ninguém, mas ainda assim, me procuravam.
Sabiam que era apenas falta de hábito meu. Atendi e a
conversa agradável se estendeu por um longo tempo,
percebi a chamada em espera e desliguei pra pegar a luz
amarela, parecia que naquela manhã também os homens
acordaram carentes. Naquele momento precisava ser mais
comedida. Do outro lado da linha encontrava-se alguém nas
mesmas condições que eu. Amava e não era amado.
Só que eu era o amor da pessoa com quem conversava.
Quando desliguei senti um vazio enorme. Será que havia

explicações para essas coisas? Fulano que gostava de mim,
que gostava de outro, que não gostava de ninguém.
Sabia que as pessoas quando conseguiam agir com a razão
quase sempre se saiam melhor do que os que deixavam a
emoção prevalecer. E sabia disso porque também já fora
racional. Mas dessa vez estava sendo mais complicado.
As emoções sentidas eram conflitantes. Era bom saber que
ainda era capaz de gostar tanto de alguém, apesar de
problemas passados, mas também sentia medo de sofrer
de novo.A sensatez dizia que era hora de traçar outro
caminho, porém uma vez mais estava ignorando o aviso.
Olhei o relógio, 08:10h, resolvi tomar um banho e enquanto

a água caia senti as lágrimas caírem e não me importei.
Era uma romântica incurável e sensível demais pra fingir
que nada estava acontecendo, sabia que ali bem perto de
mim alguém esperava pelo momento que eu estivesse
disponível para uma relação.
Não sei quanto tempo isso levaria pra acontecer e nem se iria

acontecer. Mas uma coisa eu sabia: a pessoa que se instalara
em meu coração e minha mente era especial demais e sabia
como ninguém manter o que eu sentia.
Tínhamos o que só casais que vivem em sintonia conseguem.

O prazer com a compainha um do outro, o interesse pelo
que o outro gosta, o respeito, a preocupação, o ser inteiro
e verdadeiro, a preferência pelo omitir a mentir...
Quem sabe um dia não riríamos de tudo isso? Afinal me

conhecia, sabia que ele já tinha traçado as próprias diretrizes
e que não havia espaço pra mim, mas no momento certo
eu conseguiria voltar à tona e respirar livre novamente.
Ou talvez consiga um dia manter esse sentimento guardado

sem dizer-lhe a importância que tem como homem, amigo
e companheiro.Fechei o livro satisfeita com o final,
Michael Brock tinha alcançado seu objetivo, foi radical,
mas se agisse de forma diferente talvez não conseguisse.
E já que minha história ainda não tinha um final, eu podia

esquecer todo o bom senso e manter meu desejo de
dizer-lhe ao ouvido:
Conquistei você.


(Esse texto teve pequenas alterações,para preservar os envolvidos).








Agora são Horas e Minutos - Seja Bem Vindo(a)
Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi.
(Mário de Andrade)