domingo, 5 de outubro de 2008

O 1º Beijo.

"Era Ano Novo, que junto com o Natal, era a festa de que eu mais gostava. Estávamos na casa de um tio tão severo, que mal podíamos pensar sem sua permissão. Esse jeito dele, só nos dava mais vontade de aprontarmos. Eu, minha irmã Rosana e as três filhas dele éramos cúmplices de tudo que fazíamos. Naquela noite estava com uma roupa nova (como era de costume nessa época), uma calça de tergal marrom e uma blusa sanfonada estampada clarinha (hoje esse modelo pode soar de extremo mau gosto e cafona, mas na época era moda). Estávamos todos reunidos na casa de uma colega, ouvindo música e esperando a virada do ano. Cheguei à calçada e vi Jorge (nome original) conversando com outra colega nossa, lamentava o fato de ter furado o pé e que devido aos remédios não poderia beber, nos conhecíamos há muitos anos e ele tinha 05 poucos anos mais que eu, mas parecia um homem experiente. Brinquei ao ver que se esforçava para poder andar. Ainda assim conseguimos fazê-lo se divertir apesar das limitações. Lá pelas 22:30hs passava por ele correndo, quando pisei em seu pé. Olhei rapidamente e percebi que segurava as lágrimas, apertou a boca com força para sufocar o grito, ainda que a música alta não permitisse que ninguém ouvisse o que estava dizendo ou querendo dizer. Eu morrendo de pena e de vergonha diante do olhar furioso dele. Pedia-lhe desculpas sem parar, até que com um gesto brusco puxou-me pelo braço e me beijou. Enquanto sua língua percorria a minha boca sem parar, exigindo uma resposta, eu lutava contra a sensação de desmaio. Ao terminar saí correndo sem olhar para ninguém e só parei do outro lado ainda arfando. Em minha cabeça ficou a idéia de punição. E mesmo assim eu tinha gostado muito. Depois que me refiz, resolvi ir embora. Falei com minha irmã, que tentou me convencer a ficar, já que estavam todos se divertindo muito, e se uma fosse embora, todas teriam que ir. Continuei ali e tão logo o novo ano chegou e as confraternizações foram diminuindo, fui me acalmando. Estava". ainda ao lado de Rosana, quando Jorge apareceu e sem dizer nada pegou- me pela mão e me levou de volta ao salão, onde vários casais dançavam, uma música romântica. Me abraçou, mas não dançamos.
_ Te assustei?_ a voz era extremamente gentil, contrastando com os gestos e a reação que estava me causando.
Não respondi, fiquei mais tímida que o normal.
_ O próximo será melhor._ disse isso e foi aproximando os lábios, de um jeito que comecei a tremer, ele sentiu e falou: _, por favor, fique calma..
Não conseguia e nem queria me afastar, Não foi só o mais longo beijo, como o melhor que já dei em alguém. Não queria mais parar, não falei nada e fiquei ouvindo sua voz baixa e rouca.
_ Não pretendo me desculpar, faz um tempão que quero fazer isso, mas você me trata como irmão. Valéria esse seu jeito calado é muito sensual e isso ainda pode lhe trazer sérios problemas um dia. O fato de não ser intencional lhe torna ainda mais sedutora. Desculpe, mas não consegui resistir._ ele ia falando e beijando-me com uma suavidade inquietante.
A vontade era que o tempo parasse.
Em determinado momento fui chamada para ir embora, mas dessa vez quem não queria ir era eu. Em casa tive que agüentar as gozações de minha prima que tinha sido a única a perceber a minha excitação, chegando a dizer que eu tinha perdido o cabaço da língua (e olha que ela além de ser a intelectual da família, também não falava palavrões). Fui embora no dia seguinte sem vê-lo. Ás vezes que voltei não nos encontramos e perdemos o contato, cada um levando sua vida. Quando nos vimos anos depois no casamento de uma de minhas primas, nos falamos, mas nunca mais tocamos no assunto.
Aí aproveito essa oportunidade para dar um recado a ele.
"Jorge, apesar do tempo não conheci ninguém que tivesse sua sensibilidade para beijar, sobre tudo nos dias atuais em que beijo virou uma banalidade e quase secundário, me orgulha muito que meu primeiro beijo tenha sido com você, que soube transformar um momento corriqueiro em algo mágico. Faz isso com prazer e arte, fazendo que cada um pareça o primeiro e por isso preciso lhe dizer que seu beijo além de ser sem igual foi para mim também inesquecível".

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Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi.
(Mário de Andrade)