sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Minha rua,minha infância

Passava com minha mãe e irmão na rua Luis Coutinho
Cavalcante,qdo vimos surgir três homens fortemente
armados e entrar na frente do carro em que estávamos.
Meu irmão perdeu a direção e não fosse a rua de terra
próxima,poderíamos ter sofrido um grave acidente.
O alvo não era o gol do meu irmão e sim o carro que
vinha atrás de nós e parou no sinal. Chegar em casa
aquela noite foi difícil,sabemos que a violência no Rio
está grande,mas a sutuação fez com que seguissemos
viagem em silêncio.Cheguei em casa e o sono demorou
a chegar,fiquei pensando no que acontecera a família
do carro abordado.Mas algo me entristecia muito mais
naquele episódio. A rua Luis Coutinho Cavalcante era
nossa velha conhecida. Ela era a rua principal que dava
acesso à rua em que moramos anos antes.
Situada no Bairro de Guadalupe,subúrbio da Central do

Brasil,ficava a rua Antônio Maria,rua essa responsável
por boa parte da minha infância.
Cheguei naquela pacata rua aos sete anos vinda da Bahia,

onde morara até então. O cj de 04 apartamentos e uma
casa nos fundos formavam o local onde agradavelmente
vivia. Como todo local de muitas crianças,a diversão era
garantida,assim tb como as confusões.
Na rua tinha a escola municipal Oswaldo Goeldi onde fiz

amigos que guardo no coração até hj.
A rua Antônio Maria,é comprida e possui duas esquinas

transversais,ambas vão dar na rua Luis Coutinho
Cavalcante.Uma dessa esquinas possui um rio
completamente poluído,mas que quando transbordava
fazia a alegria da criançada.
Festas juninas e americanas,jogos da copa do mundo,

final de ano...tudo era motivo para reunir a criançada
e muitos adultos. Como todo lugar que tem muita
criança,confusões não faltavam. Tínhamos uma
associação de moradores e o presidente dela
era um homem educado,inteligente e simpático,já a
primeira dama,como costumava-se chamá-la,era um
purgante.Implicava com tudo e com todos,furava a bola
das crianças e não fazia questão de ser simpática com
ninguém.Como tinha deficiência em uma das pernas
e era gorda,logo ficou conhecida por baleia manca.
Junto com os chatos tinha também o mais fofoqueiro
que atendia por Pantaleão,o mais brigão que após
descobrir um problema sério no coração,transformou-se
em uma doce criatura,passando a ser chamado de
"coração de Betina",tinha a vizinha que jurava ver
visões e gritava feito louca ficando nua dentro de casa,a outra
que fazia todas as refeições na rua para não perder
nenhuma novidade e ainda varria o portão com roupão
de banho,para delírio dos meninos. rss
Mas a vida ali,tb tinha suas tristezas. O rio quando

transbordava era alegria para as crianças,mas não
para quem perdia o pouco que tinha. A escola ficou
por mais de um ano sevindo de abrigo para outras
comunidades que perderam suas coisas. A moça que
ficava nua,o meu melhor amigo,o brigão e um vizinho
querido morreram. Os dois últimos tiraram a própria
vida. E em cada um desses episódios era evidente a
tristeza. Até mesmo ir até a linha férrea colar chiclete
no sinal para ver os trens pararem,perdiam a graça
em momentos como esses.
Havia o Estrelinha futebol clube,o time local que fazia

sucesso entre as meninas da rua e vizinhas. O brinde
para cada gol feito,era um beijo daquela eleita pelo
menino. Era divertidíssimo. Tinha uniforme para torcida
organizada,ensaios de dança e etc...claro que os pais
ficavam loucos. Ninguém segurava a garotada em época
de jogos do EFC. Tinha também a turma do poker,
formada por homens adultos que se reuniam de sexta
à domingo dia e noite em sistema de ridízio para
a jogatina. Jogavam valendo dinheiro e tudo o que
arrecardavam iam para uma conta,onde se transformava
em uma mega festa para o dia das crianças. Era com
orgulho que nós da rua usávamos a camisa da turma
de apoio,organizando e criando brincadeiras,eventos
e comidas para as comunidades vizinhas que já sabiam
do evento. Era todo dia 12-10 de 09 ás 19hs. E era
sempre o maior sucesso. Lembro que um dia,já
as vésperas de mudar,cheguei do trabalho e uma
grande confusão estava armada.Era um sábado por
volta das 14 hs. Nunca tinha visto tanta gente na rua
que morava e nas vizinhas. Entrando em casa fiquei
sabendo que foi descoberto em uma fábrica no final
da rua,um depósito clandestino de um refrigerante
da marca cola. houve uma invasão ao local,o boato
foi se espalhando e logo as pessoas desciam dos ônibus
para pegar o refrigerante em lata. Embora ninguém
soubesse a procedência da bebida a situação ficou tão
sem controle que as pessoas passavam com baldes,carros
de bêbes,carrinhos de mão,cesto de roupa e tudo o que
encontravam pela frente,inclusive os próprios carros.
Coube a polícia apenas dar apoio,já que a ordem foi
difícil ser estabelecida. Um vendedor de refrigerantes
que passava todo sábado vendendo,quase foi linchado
quando entrou na rua, e acabou indo também pegar
sua parte. O tumulto foi parar nas rádios e no domingo,
embora ainda houvesse carga no local,não foi mais
permitida a entrada de ninguém.
Eu grávida e vivendo um momento bem difícil,me diverti

olhando pela janela de casa, as formas que aquelas
pessoas encontravam para driblar os problemas e
sorrir um pouco. A rua Antônio Maria era tudo de bom.
Nela nasceram meus três irmãos mais novos,foi dela
que rumei a igreja vestida de noiva e também foi lá que
meu filho nasceu. Sair de lá foi doloroso porque
deixava uma infância difícil sim,mas muito feliz.




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Agora são Horas e Minutos - Seja Bem Vindo(a)
Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi.
(Mário de Andrade)