sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Se não sabe beber...


Quando iniciou seu namoro com Júlio,
adiqüirram o hábito de irems a um lugar
que gostavam muito e que facilitava o
transporte, já que pegávam o ônibus no
ponto final e descíam no outro final. Mesmo após
ter comprado o carro, vez ou outra íam lá.
No caminho de volta passavam em frente a um
restaurante italiano que tinha um espaço externo
fabuloso. Ficava sempre olhando com cara de
cachorro que olha para frango de padaria.
Como era um local muito caro, ficava completamente
fora do orçamento. Só não sabia que Júlio não ficara
indiferente aos seus olhares.
Faltando dois dias para o aniversário dela, ele falou:
_ Te pego amanhã ás 20hs, fique pronta.
_Onde iremos?
_ É surpresa, mas não se atrase.
Ficou ansiosa para saber do que se tratava.
No dia seguinte estava pronta quando ele chegou.
O olhar dele aprovava o visual. Ela mesma havia se
surpreendido com as mudanças que uma maquiagem
faz em uma pessoa.Em mais ou menos quarenta
minutos estavam na Tijuca, parados no estacionamento
do restaurante. Ela boquiaberta e ele divertido
com sua expressão. O garçom aproximou-se para
anotar os pedidos.
_ Um chope e uma caipirinha. _ disse Júlio.
_ Não vou beber caipirinha nenhuma. Você sabe
que não bebo.
_ Ah preta! Hoje é um dia especial, faz alguma
coisa diferente.
O garçom continuava pacientemente esperando
que resolvessem.
_ Caipirinha ou Caipiríssima? _ perguntou o homem?
Fez a opção sem perguntar qual a diferença,
entre uma e outra.Quando a bebida chegou não
aprovou o sabor, mas decidiu bebê-la mesmo
assim. Mas no terceiro gole já estava tonta,
comentou com Júlio. _É a falta de costume,
assim que comer vai se sentir melhor.
Quando o prato chegou, o enjôo era tão grande
que quase vomitou. O copo era grande e ainda
estava pela metade. Júlio falava enquanto comia
e ela mal divisava sua imagem. Depois de muito
tempo tentando se restabelecer, chegou finalmente
a hora de irem para casa. Só chegou ao carro porque
foi praticamente guinchada por Júlio.
O vento no rosto fez bem, mas para surpresa de
Júlio, começou a cantar, colocava o rosto para
fora do carro e cumprimentava os poucos motoristas
que ali passavam àquela hora. Pendurou-se no pescoço
dele e falava todo o alfabeto, conforme os profissionais
da área dele usavam. Ou seja, uma reação completamente
atípica da que costumava ter. Sabia exatamente tudo
o que estava fazendo, mas não conseguia controlar
a vontade de continuar fazendo. Estava se divertindo.
_ Por quê estamos nessa estrada? _ perguntou ao
reconhecer a serra?
_ Acho que não deve chegar em casa desse jeito.
_ Não quero chegar tarde em casa. Preciso acordar
cedo para ajudar minha mãe.(na verdade, tirando as
vezes que viajava, nunca dormia fora de casa).
_ Não se preocupe é só o tempo de se recuperar
um pouco.Paramos em frente a casa dele e apesar
da dificuldade de subir as escadas, logo estava sentada
no sofá e foi aí que percebeu que estavam sós.
_ Onde está todo mundo?
_ Foram passar o feriado fora.
_ Hum... Começo a sentir cheiro de armação.
Júlio sorriu sem jeito, e ela gargalhou de suas idéias
eróticas. Logo percebeu a intenção dele,mas não
se opôs. O noivo insaciável recomeçou novo trajeto
pelo corpo dela. Aí tudo começou a escurecer.
_ Valéria, acorde. Temos que ir.
_ Que horas tem?
_ São quase 03hs.
Levantou-se e foi para o banheiro, já estava no
chuveiro quando lembrou que havia adormecido
ou desmaiado (não sabia o que tinha havido),
quando Júlio ensaiava sua performance sexual.
Encontrou-o na sala já vestido.
_ Desculpe por ter adormecido em hora tão imprópria.
_ Para mim não foi obstáculo nenhum.
_ Como é? Está querendo dizer que me usou
enquanto estava desacordada?
_ Eu não usei ninguém, você é minha noiva e
eu fiz de tudo para acordá-la.
De repente sentiu o enjôo aumentar. Não era a
toa que diziam que buraco de bêbado não tem dono.
Júlio nada dizia, mas olhava como se ela estivesse
tendo uma crise sem razão. Parecia loucura, mas
ele julgava certo o que havia feito.
Já em casa passou mal o resto da noite e ainda estava
deitada quando Júlio voltou. O dia de seu aniversário
chegava encontrando seus pensamentos e sentimentos
nublados.Não conseguia aceitar o que havia acontecido,
desde a bebedeira (ainda que apenas um copo) que lhe
fez tanto mal, até o desfecho de tudo aquilo.
As pessoas de todo ano estavam chegando. Seu pai sem
saber o motivo do mal estar, apareceu com um
copo na mão.
_ Não quer um gole? Vai ajudar a se sentir melhor.
_ Não. Estou convencida de que quem não sabe
beber bebe mijo.
É claro que o pai não entendeu nada, mas Júlio
percebeu que o ocorrido realmente havia feito um
grande estrago. Só não sabia se ele atinava qual teria
sido a pior parte da história .
Ela por sua vez,aprendera a lição:
Se não sabe beber...

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Agora são Horas e Minutos - Seja Bem Vindo(a)
Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi.
(Mário de Andrade)